Quem é você mulher que me desalenta, me encanta, me incita e me consome? Que afasta minha temperança, ofusca o meu juízo e ensombra minhas inferências?
O antes nada é. Eu vago e nada encontro, nada reconheço. As ruas são vazias, os dias são cinzentos. Nada tenho além de dúvidas. Sigo procurando por respostas escritas no brilho do silêncio mas as perguntas insistem. Tudo está decaído, quieto, decrépito.
Até que do teu sorriso, enche-se o mundo. E o passado esvai-se em memórias esparsas, em pedaços de poemas e fragmentos do que era. Da tua beleza faz-se o infinito e o amor ergue-se em grito.
Mas não! Não enlace a minha tristeza. Não oferte seus abraços aos meus braços. Não ceda o seu beijo à minha irresolução. Não me deixe provar do teu toque, tocar teus sentidos, experimentar o indescritível que se abre por entre teus encantos.
Um leve toque naquele pequeno delicado arguto e tudo se transforma num instante. Parte deste ponto primordial, todo um universo lemaitreano em abrasadora e rápida expansão. Vai o profundo toque e rompe o silêncio, devassa o secreto, retorna à origem e completa a perfeição. E correm primorosos os rios de sangue, percorrem no pequeno e infinito momento até eclodir num saudoso hino de arquejos e suspiros.
Morre de compor, o compositor, morre de escrever, o escritor, morre de amar, o amor. Faça o que fizer, diga o que disser, amanhã carregaremos a suave e satisfatória lembrança desta morte dos sentidos. E tão somente a lembrança de algo que jamais voltará.
Se novamente quiser ouvir, não te direi, leia aqui e retroceda ao ontem. E o faça logo pois ainda é cedo. Pois hoje o que te darei será um silencioso e ansioso desejo de até breve em meio à mágoa de um adeus.