quinta-feira, 3 de outubro de 2013

As Crônicas de Gelo e Vodka: O Enigma da "Princesa"

- Alô, Michel? É o Marco, tudo bem? Onde vocês estão, cara?
- Tô aqui no Joe Joe tomando uma Original na conta do Roque e do Léo. O Jorge tá aqui também!
- Opa! Na conta deles? Tão comemorando alguma coisa?
- Uma aposta que eu ganhei... Chega aí que já te conto a história!
- Tô chegando!

"Estávamos eu, ou seja, Michel, e meus três drugues, ou seja, Roque, Léo e Jorge. Estávamos todos na casa de Jorge, rassudocando o que faríamos na noite daquele dia na capital da amizade. Servia-se tererê, que era o que tomávamos então - um filtrado a frio de ervas - que estimula os sentidos, melhorando a concentração e evitando o cansaço.
- Hoje tem uma festa a fantasia da empresa do meu velho. Não sei se vai estar boa mas pelo menos podemos tomar umas de graça - disse Jorge.
- Por uma cerveja grátis eu topo quase qualquer coisa! Respondi. O que a trupe não sabia é que mais tarde estas palavras viriam a fazer sentido, como a presença de um rato no interior de uma garrafa de coca-cola... Faz sentido!"

- Tá cara, mas e a aposta?
- Calma aí Marco! Já chego lá!

"Ao cair da noite nos encontramos em frente à casa de Jorge. Léo e eu, fomos os primeiros a chegar. Léo, o mais basbaque dos drugues, trajava um paletó preto e uma saia xadrez, que este insistia em chamar de kilt. A mim era só uma desculpa pra andar com seus testículos balouçando aos ventos. Sempre achei difícil acreditar que este conseguiu entrar para a faculdade estadual de medicina."

- Sério mesmo Michel? Sério que você acha que era por isso?
- O Jorge e o Roque estão de prova. Você não parava de dizer que se sentia livre!

"Eu trajava um jaleco branco que havia emprestado de Léo. Usava também uma gravata e um chapéu coloridos e um nariz vermelho de palhaço. Doutor Hunter "Patch" Adams.
- Cara, esse kilt dá uma sensação de liberdade! - disse Léo balançando o quadril para os lados.
- Pode crer... - respondi observando aquela cena sem saber ao certo o que pensar.
Tocamos a campainha e eis que da porta da casa sai Jorge fantasiado, por mais que ele dissesse ser de sheik árabe, de Golias do programa "A Praça É Nossa". Roque logo chegou também. Este trajava vestes camufladas de soldado atirador. Vestes estas que um jovem chamado Pavarotti havia usurpado do tiro de guerra local.
- Vamos todos num único carro? - questionou Roque.
- Acho que é melhor - concordou Jorge.
- Doutor da alegria, Michel? - questionou Roque.
- As mina pira no caráter e na idéia! Respondi.
Entramos todos no meu carro e nos dirigimos à chacara a qual pertencia à empresa e seria sede da grande festa. Não muito distante da cidade, ficava esta chácara, e já da entrada desta, podíamos ver a movimentação e grandes canhões de luz. Canhões daqueles que te fazem pensar em Bruce Wayne e o Cavaleiro das Trevas. A chácara era realmente de outro mundo. Um odor de poder, influência e supremacia pairava no ar.
- Vai dar bom! - disse à trupe. Mal sabia eu que o que me aguardava era muito melhor.
Estacionei o carro e descemos em direção à entrada da festa. Dois seguranças parados na entrada revistavam os convidados. Percebi o desconforto nos olhos destes ao revistarem Léo."

- HAHAHAHAHAHAHAHA

"Logo nos primeiros minutos de festa percebemos a fria que havíamos nos metido. Com exceção de uma Lara Croft, muito gata, diga-se de passagem, mas acompanhada de seu namorado, não havia uma garota sequer de nossa faixa etária. Uma grande quantidade de casais mais velhos nos cantos conversando entre si e na pista um pessoal mais velho que parecia ter aprendido a dançar assistindo "Nos Tempos da Brilhantina (Grease, 1978)"."

- Aliás, é um excelente filme! Assisti essa semana!
- Prossiga, Michel!

"Anime-se Michel e tome uma cerveja, eu dizia a mim mesmo. Esta festa pode render um pouco mais! Ao que minha mente repetia isso, uma jovem senhora se aproximou do grupo. Toda produzida, com seios fartos em um sutiã vermelho que saltava pra fora de seu decote. A cor de seus lábios combinando com o decote e os olhos claros, lindos, do tipo que pode-se passar horas a contemplar. Ela caminhava em nossa direção com classe e imponência."

- Eu tenho uma lembrança totalmente diferente...
- É cara... Ela era feia pra caralho!
- Pô galera... Por favor... Dá pra vocês só... Por favor? Eu estou contando a história!

"Ela aproximou-se de Jorge, esticou-lhe a mão e disse em meio a um belo sorriso:
- Prazer, Norminha!"

- É nada que ela estava fantasiada de Norminha da novela? Norminha? Da novela! Pô, vocês sabem né? Aquela que traía o marido e pá... Não? Tá bem... Deixa pra lá...

"Aproximou-se então de Léo e repetiu. Daí para mim e posteriormente para o Roque. Ela apresentou-se a todos, com as mesmas palavras e com o mesmo sorriso. No ar havia uma mistura de classe, respeito e volúpia. Ela incitava a todos por onde passava e, logicamente, despertou a libido de todos nós."

- Não...
- Não mesmo...
- Só do Michel...

"Naquele momento eu sabia o que deveria fazer. Eu devia cortejá-la.
- Vou chegar na Norminha - eu disse ao Roque.
- Te pago uma Original - respondeu.
Uma Original? Por acaso, a minha cerveja preferida, pensei.
- Cara, esse kilt dá uma sensação de liberdade! - disse Léo.
- Há, olha isso! O Roque disse que me paga uma Original se eu beijar a Norminha! - disse ao Léo.
- Te pago outra! - respondeu.
Eu faria de graça. Eu sabia que eu faria de graça. Por que motivo então eu hesitaria se me ofereceram minha cerveja preferida? Tomei o último gole da cerveja que bebia e parti em direção à linda senhora. Com o olhar fixo nela me aproximei, como um leopardo espreitando a sua presa. Ela estava na pista a dançar com suas amigas. Entre várias outras damas, ela se destacava. Era graciosa, era perfeita, era como uma princesa!"

- Ela parecia o pazuzu dançando...
- O pazuzu tendo um derrame!

"Parei à sua frente e com o olhar fixo em seus olhos perguntei:
- Qual é o seu nome?
- Úrsula - respondeu.
- Mas não era Norminha? - perguntei.
- Tanto faz - respondeu.
- E qual das duas eu vou beijar? - galantemente perguntei.
- Tanto faz - respondeu.
E assim eu beijei-a. Era suave. Era doce. Era como se anjos dançassem tango em nossas bocas."

- Foi uma das cenas mais aterrorizantes que eu já vi em toda a minha vida!

"Convidei-a para irmos a um lugar mais tranquilo. Possivelmente para o lado de fora do salão, onde havia uma piscina com cadeiras ao redor e poderíamos ficar mais à vontade. Para minha surpresa, ela respondeu:
- Melhor não! Meu filho não está com cara de que está gostando!
- Seu filho? Onde? - me surpreendi.
- Ali! - e ela apontou na direção de um rapaz alto, forte, barbudo, que aparentava não estar nenhum pouco feliz, em meio aos seus 30 e poucos anos.
No mesmo instante em que este começou a caminhar em nossa direção, eu me dirigi aos meus drugues para contar o ocorrido.
- Jovens senhores, peço que não se preocupem mas possivelmente terei de defender a honra de minha donzela Norminha, ou Úrsula, que é seu verdadeiro nome, perante seu filho que quer impedir a nossa linda história de amor de acontecer. Fiquem tranquilos, eu dou conta dele e de seus amigos sozinho. Obrigado!"

- E assim Marco, eu não só ganhei o direito de amar minha linda donzela, como também ganhei estas cervejas que estamos bebendo!
- Então vocês vazaram de lá correndo?
- No mesmo minuto em que o Michel disse "Ih, carai! Fudeu! O filho dela e os amigos tão aí e vão querer encrenca! Simbora rapeize!"
- Uma festa e tanto Marco... Uma festa e tanto...